sábado, 31 de outubro de 2020

Bibliografia para a vida - post flutuante

 Neste post aqui, quero citar os livros que pretendo ler ao longo dos próximos meses/anos. A ideia é realmente fazer um plano de estudos. Qual é o objetivo deste plano de estudos? Me levar a ser um homem mais sábio e mais santo, vivendo de modo mais profundo e com maior senso de dever a minha realidade, a qual estou inserido. Alguns livros serão "ferramentais", me dando algum instrumento linguístico para melhor me expressar ou para ampliar minhas possibilidades de leitura, como livros de ensino de línguas ou livros que ensinem retórica/oratória, por exemplo. Outros livros serão "científicos", num sentido que abrange também a filosofia. Esses se subdividem em "formativos" e "informativos". Os formativos organizam a mente e constroem a base que dá unidade ao múltiplo, os informativos dão informações pontuais a respeito desta multiplicidade. Por fim, há os livros "espirituais", que me lembrarão do Único necessário, do porque de eu fazer tudo isso, do propósito sobrenatural que pode existir numa vida de pesquisador em física, pai (de dois agora, minha esposa está grávida de novo!) e marido. Esta categoria pode se confundir com a 'filosófica' se se considera, por exemplo, a "filosofia da vocação" de um Ortega y Gasset, ou a fenomenologia utilizada pelo grande Dietrich Von Hildebrand. 

Essa categorização, no fundo no fundo, não importa tanto. Buscarei, então, dividir essa leitura em dois horários durante o dia. O primeiro livro será lido no almoço, enquanto como. O segundo livro será lido a noite, e deve ser um livro mais "osso duro de roer", mais profundo, o que não quer dizer que o livro do almoço será raso, por certo.

Enfim, basta de bla-bla-bla. Vamos elencar os livros! 

As grandes Teses da Filosofia Tomistas - A.D Sertillanges

Cavalo de Troia na Cidade de Deus - Dietrich Von Hildebrand   

O amor entre o homem e a mulher - Dietrich Von Hildebrand

Dos, Una Sola Carne - Alberto Cattureli

Fundamentos da Filosofia - Manuel Garcia Morente (parte histórica)

Livro II do "O Livre Arbítrio" - Santo Agostinho

Três Vias e Três Conversões - Reginaldo Garrigou Lagrange

Prática de amor a Jesus Cristo - Santo Afonso de Ligório

Deus e o Homem - Joathas Bello

A Nossa Transformação em Cristo - Dietrich Von Hildebrand

Introdução ao Espírito da Liturgia - Romano Guardini

Atitudes Éticas Fundamentais - Dietrich Von Hildebrand

A Crise no Mundo Moderno - Padre Leonel Franca

O método pedagógico dos Jesuítas - Padre Leonel Franca

O Drama do Humanismo Ateu - Henri de Lubac

Casti Connubi - Pio XI

Aeterni Patris - Leão XIII

Dom Quixote de la Mancha - Miguel de Cervante

Meditaciones Del Quijote - Ortega y Gasset

Cidade de Deus - Santo Agostinho

Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis (talvez o resto das obras pós esta tbm)

Contos - Machados de Assis

Machado de Assis - Gustavo Corção

Casa Grande e Senzala - Gilberto Freyre

Os Sertões - Euclídes da Cunha

O Auto da Compadecida - Ariano Suassuna

Pensamentos - Pascal

Reflexões sobre a Vaidade dos Homens - Mathias Aires

Sonetos - Camões

A Divisão da Cristandade - Christopher Dawson

Lições de Abismo - Gustavo Corção

Desconcerto do Mundo - Gustavo Corção

Trabalho ordinário, graça extraordinária - Scott Hahn 

Algo de Soren Kierkeergard (devo ter escrito errado)

Algo do Cardeal Newman


And the list will go on...!










sábado, 24 de outubro de 2020

(Possíveis) marcos para uma reflexão séria e católica acerca da ciência moderna - PARTE 1

  Com este post (se é que alguém vai ler), buscarei propor alguns pontos de partida para uma reflexão séria e católica acerca de algumas questões espinhosas da ciência moderna. Quero evitar duas posturas opostas, e que me parecem incorretas, sendo uma delas efetivamente perniciosa. De um lado, há aqueles que, num tom de bravata e proclamando o anátema de quem discorda, acabam por desprezar como ficção herética várias teorias científicas já bem consolidadas, muitas vezes dando argumentos que não encerram a questão enquanto cantam vitória, julgando tolos todos aqueles que dedicam a vida a estudar perante aquela perspectiva (e ora, acho que o jeito que alguns criticam os filósofos modernos padece do mesmo problema). É o caso de alguns críticos do evolucionismo, por exemplo. De outro lado, há alguns que estão dispostas a abandonar uma interpretação tradicional católica acerca de certo acontecimento sem ter motivo intelectual suficiente pra tal. Este lado é muito mais pernicioso que o primeiro, pois o risco de se perder a fé e se embrenhar em uma perspectiva meramente naturalista da realidade é bem grande.

 Enquanto tomo cerveja (amarga: não gosto de cerveja, mas estava aqui no freezer a tempos e quis tomar hoje) e como amendoim, expressarei o que me parece justo e legítimo.

Evolucionismo: Acho que esse é o assunto mais polêmico de todos que tratarei. Em primeiro lugar, é preciso traçar as linhas gerais daquilo que uma reta doutrina acerca da origem das criaturas deve obedecer. Existe uma fala de Pio XII onde ele deixa bem claro que não é possível conciliar o poligenismo com o fato de que o pecado entrou no mundo por "um único homem". Houve um homem, do qual descendem todos os homens, e ele pecou. Sabemos também que Deus "criou" os seres vivos, embora, como diria Chesterton, não faça diferença se ele os criou rapidamente, todos de uma vez, ou vagarosamente, num processo "evolucionário". Como poderíamos conciliar isso com o conceito, já dogmatizado, de "essência", no qual se baseia a realidade da Transubstanciação? É preciso levar isso em conta. Entretanto, devemos repudiar a ideia de que um homem é um ente meramente natural. É também verdade de fé que o ser humano é dotado de corpo e alma, e de fato, é impossível dizer que um conjunto de variáveis físicas organizadas de um modo tal seja dotada de consciência. O ser humano percebe que existe, percebe que pensa, e percebe que pensa no instante exato em que pensa em algo. É possível surgir com argumentos racionais para a existência da alma, e penso que uma boa apologética deva passar por isso, mas por ora, fiquemos com o fato de que essa é uma verdade inegociável para um católico, e que se isso fosse des-provado, se de algum modo alguém mostrasse que não há alma imortal, a fé toda seria uma piada e a vida, absurda. Isso não inviabiliza a evolução do homem a partir de um ancestral mais... "macacal", mas em algum ponto houve um salto qualitativo, dado por Deus, e aquele ser já não era mais um "bruto", mas um animal racional. Parece, agora por motivos morais, impossível que Deus desejasse que este novo ser 'racional' procriasse com animais suficientemente próximos geneticamente. Ainda seria zoofilia. Deste modo, a tese do grande Edward Feser me parece excessivamente naturalista. 

Acerca deste tema, existem muitas posições. Os fundamentalistas protestantes, negando a veracidade dos testes de datação geológica, dizem que a Terra possui apenas alguns milhares de anos, tomando por literal a cronologia do Gênesis. Existe alguns católicos, com quem não concordo, que admitem que a o Universo e a Terra são antigos, mas que trazem a existência de todos os animais para períodos muito menos remotos do que aqueles sugeridos pelos processos de datação (sugerindo a Flinistônica tese de que os seres humanos conviveram com os dinos). Não parece haver motivo suficiente para descreditar tais métodos, mas preciso estudar mais a fundo tal tema para não ser refuctado e sair como idiota da história.  Há outros que, num extremo oposto, tomam a explicação científica vigente mesmo nos pontos menos justificados, de modo que Adão se torna uma "tribo". Me parece contradizer explicitamente a fala de Pio XII, por mais que alguns digam que não. Existem ainda a hipótese, razoável, porém forçada, de que os fósseis encontrados de hominídeos antigos se refiram a homens "animalescos", os famosos "pré-adâmicos", que não deixaram descendentes. Devo essa tese à Dom Estevão Bettencourt, bispo bastante douto. Não me parece uma tese ruim, mas ainda fica em aberto a interessantíssima pergunta: quando o ser humano se tornou ser humano? Temos genes de Neandertal, então fica claro que os Neandertais eram já seres humanos. Ademais, eles faziam funerais e deixavam rabiscos em cavernas. Adão era um Neandertal? Mas... e o Homo Erectus? Ele dominava o fogo. Animais podem dominar o fogo? Mas... Adão supostamente era um homem perfeito, com talentos muito superiores aos nossos. Como ele poderia ser ele um homem amacacado? Mas pode um animal irracional dominar o fogo? Parece um pouco demais supor que Adão era um burro bárbaro. E o quão confiáveis são esses fosseis todos? Há motivo pra duvidar? Parece que não, mas também preciso estudar a respeito. Não é justo tomar a tese de um ou de outro sem evidências suficientes.

Devido a todos esses problemas, me parece mister supor, ao menos no caso humano, a tese do professor Joathas Bello, provavelmente o melhor filósofo que já conheci. Ele levanta a tese de que Adão e Eva não foram seres humanos aqui nesse mundo, se baseando no fato de que "toda a criação" decaiu após o pecado deste primeiro homem. A hipótese dele é de que Adão e Eva viviam num mundo perfeito (o Eden), e este mundo se dissolveu em trevas e caos após a queda (e Adão e Eva foram pra um "limbo"). Deste modo, o universo se colocou num estado de "caminhada", evoluindo de animais, até animais espertinhos (um chimpanzé, um Australopiteco), até seres humanos estúpidos (os primeiros hominídeos, já dotados de alma imortal) até seres humanos espertos (Neandertais e Sapiens). Mas como isso salva a paternidade literal de Adão sobre Caim, Abel e Set? A pergunta científico/filosófico de "quando o homem se tornou homem" acaba substituída por esta pergunta "teológica", por assim dizer.


E a questão da "essência"? Como isso pode coadunar com o evolucionismo. Bom, em primeiro lugar, é óbvio que somos algo, e que todas as coisas são sendo "algo" específico. Apenas Deus tem o "ser" por essência, nós, pelo contrário, somos sempre algo específico. Não só nós, mas este copo, esta pedra e aquele ornitorrinco não são "simpliciter", são algo especificado, são corpos, pedras e ornitorrincos. Entretanto, o que define o que algo é? Os aristotélico-tomistas (tomismo do qual nenhum católico pode se afastar a não ser por graves motivos!) chama isso de "essência". Seres humanos só se reproduzem com seres humanos, então há algo como "humanidade". A dinâmica de um elétron livre pode ser explicada via equação de Dirac quantizada, e não por outra equação. Cães e gatos não fazem filhotinhos. Então há algo como "cachorridade", "gatidade", "humanidade" e "eletroncidade". Entretanto, leões e tigres, animais diferentes, podem procriar entre si (não naturalmente, naturalmente). Jumentos e éguas também podem procriar, dando origem ao amado burro. Zebras e cavalos são animais diferentes, mas também podem procriar. Essas crias são seres vivos, animais fortes (até demais, como é o caso do Ligre), mas muitas vezes estéreis e defeituosos. A reprodução, neste caso, é possível, mas há uma certa incompatibilidade, não o suficiente para evitar a procriação, entretanto. Até faz sentido, pois são animais diferentes, mas semelhantes. Entretanto, um cão não pode cruzar com um gato, e tampouco um cavalinho com uma girafona. Existem entes perfeitamente "acasalantes" entre si, existem entes que podem até cruzar, mas dando crias bugadas, e existem animais que podem cruzar, mas jamais gerarão crias. O que isso sugere? A essência pode ir mudando através das gerações, de modo a tornar uma reprodução outrora impossível, possível? O que "define" a essência? Me parece que, no caso humano, é a alma imortal, mas nos animais, que são materiais, pode existir um princípio "interno", "físico", que dite a essência do animal. Seria o oposto de um "hilozoísmo", que (tá, estou deturpando o termo) dita que as essências são como "fantasminhas" encaixadas no animal. A essência seria, ao menos no caso de seres puramente materiais, uma propriedade "emergente" dos constituintes mais básicos deste ser. Mas é uma questão em aberto, sobre a qual precisa haver muita discussão. Ademais, o 'resultado' da emergência precisa estar em "algum lugar", after all. Nada é simplesinho nessa questão,

E sobre o princípio da vida? Como um ser "morto" se torna vivo? A vida surgiu de processos químicos naturais? Há vida extraterrestre?

Vamos buscar responder de "dente pra trás", como diria minha mãe. Há vida extraterrestre? Vejo bastante o pessoal de minha área dar dois argumentos a favor da teoria de que existe vida fora da terra (e mais, vida inteligente!). O primeiro é: "se o universo tivesse apenas a gente de inteligente, o resto dele todo seria um grande desperdício de espaço". Essa ideia é tão estúpida que nem perderei tempo respondendo. O segundo é: "se estamos aqui, é mais provável que a vida seja provável do que não". Esse argumento é mais digno de respeito, mas parte do pressuposto de que a vida é um fenômeno plenamente natural. Quem sabe? Sobre a vida humana, estou convencido que sim, de modo que não parece fazer sentido que haja vida inteligente fora da terra, mas ainda que se desconsidere esse meu convencimento, não há razão forte para dizer que há vida fora da terra, pois ninguém sabe ao certo como a vida surgiu aqui. Como saber se é um fenômeno natural? Dizer que tem que haver vida porque nós temos de ser fruto de um fenômeno natural é petição de princípio. "Somos naturais, logo, somos prováveis, e deve existir algo como nós fora deste mundo". Isso vale pra nós, vale pros cogumelos. Temos alma imortal, não somos naturais, mas e a vida? É uma outra questão em aberto. (Colocando em termos mais rigorosos: a vida, pra surgiu, precisa de Deus como causa primeira ou causa segunda?). E o que torna um ser vivo, vivo? A reprodução? Definir esse limiar é uma meta fascinante, e, por que não, urgente.

Enfim, me parece ser este um ponto de partida seguro para começar a se investigar a questão de um ponto de vista simultaneamente católico e intelectualmente honesto. Há alguns pontos, que tomei como axiomáticos, que decorreram da fé e não podem prescindir da conversão do sujeito que dialoga a respeito disso (ora, sejamos francos, de que adianta o sujeito se convencer de x ou y se ele não se convence do único importante?). Entretanto, há certos pontos "de fé" que não são de fé, são de razão natural, e que devem ser provados e demonstrados partindo o máximo possível do ponto de vista cientificista científico do debatedor. É o caso da existência da alma e do conceito de "essência", por exemplo.

Enfim, pretendo fazer posts do tipo para outros problemas em aberto também. Peço perdão pelo post longo, espero que tudo esteja bem claro, e qualquer dúvida, comentem! Não sei se há alguém lendo, mas se há, obrigado por aguentar até aqui, e que Deus o abençoe.