terça-feira, 3 de novembro de 2020

03/11 - Meditando sobre os pontos 247-250 de "Caminho", de São Josemaria Escrivá

 Seguindo o que sugeriu meu diretor espiritual, estou buscando fazer 20 minutos diários de oração mental, com um livro espiritual. No caso, o livro escolhido foi "Caminho", de São Josemaria Escrivá, fundador da Opus Dei.

 Hoje, depois de alguns dias parado em virtude do feriado prolongado e de alguns compromissos, voltei aqui pra USP para trabalhar. Trabalhar com física, com minha pesquisa. As vezes tudo parece árido, seco, abstrato e inútil, e não tenho "vontade" de trabalhar. Mas é bem claro que é isso que devo fazer. O dever de estado é tão grave para um leigo quanto é o dever de estado de um sacerdote. Trabalhar bem, sem distrações, é tão importante pra mim quanto é para um padre o atender confissões, o celebrar missa, o rezar o ofício divino com devoção. Mas sempre vem a pergunta: "qual o porquê de tudo isso?". Parece tão mais útil ficar estudando doutrina católica, ou filosofia! 

É verdade que estas coisas são importantes, mas um padre que deixasse de celebrar missa, rezar o ofício ou atender confissões estaria falhando gravemente, ainda que ele deixasse de fazer estas coisas para "estudar doutrina". Ele deve sim estudar doutrina, mas no momento oportuno, depois de cumprir todos os deveres. O estudo das coisas de Deus é excelso, o ordenar a mente em busca da verdade é bom, até uma pequena distração fazendo algo legal no momento oportuno, para fins de descanso, é ok, mas se estas coisas não estiverem associadas ao "carregar a cruz" no dever cotidiano... temos um problema.

Ok, vamos a São Josemaria:

247: Concretiza. - Que os teus propósitos não sejam fogos de artifício, que brilham um instante para deixarem, como realidade amarga, uma vareta de foguete, negra e inútil, que se joga fora com desprezo.

Ora, quantas vezes não fiz propósitos de vida apenas para ignora-los, cedendo a primeira tentação de dispersão? Cedendo à primeira, a vontade se estiola, e o dia de trabalho irá necessariamente de mau a pior, a não ser que haja uma ruptura violenta com a espiral de dispersão. De nada adianta um propósito sem cumpri-lo. Qual é meu propósito? Trabalhar bem, com afinco, com concentração, para aumentar minhas chances de conseguir ser um pesquisador de alto nível e obter uma posição universitária. Pra quê devo querer isso? Porque tudo indica que é isso que Deus quer de mim. Mas porque Deus quer isso de mim? Porque 1) tenho grande interesse e grande facilidade com física/matemática desde que me conheço por gente; 2) porque trabalhar bem naquilo que se está inserido é dever de todo cristão; 3) porque assumi este compromisso com meu orientador, com a universidade e com a FAPESp; 4) porque tenho dever grave de fazer o possível, sem negligenciar outros deveres, no que tange o proporcionar sustento para minha esposa e filhos (ainda mais porque a meta é que eu possa sustentar a casa sozinho, a fim de que a minha esposa possa se dedicar plenamente à importantíssima tarefa de educar verdadeiramente nossos pimpolhos); 5) porque sendo um professor universitário, seria um sujeito influente, podendo despertar algum interesse pelo catolicismo nos alunos; 6) porque sendo um bom pesquisador, levarei os alunos a pensar o seguinte: "ele é um grande físico e é católico: que curioso!; 7) porque o ambiente universitário precisa de católicos que se definam como tal e vivam como tal, porque lá impera o ateísmo e o materialismo. Se isso não é motivo suficiente, o que seria? Preciso que Cristo desça aqui em pessoa e me mande trabalhar?

248: És tão jovem! - Pareces um barco que empreende viagem. - Esse ligeiro desvio de agora, se não o corriges, fará que no fim não chegues ao porto.

Para que eu cumpra este propósito, preciso me vigiar todos os dias e trabalhar com afinco também diariamente. É assim na vida de oração, é assim no cuidado com o casamento, é assim no trabalho. Cada dia exige a guarda do coração, para que tudo eu possa fazer segundo uma "ratio" bem ordenada. Se eu deixo pra amanhã, pra semana que vem, pro mês que vem, o tempo se esgotará, e o fracasso baterá em minha porta. Claro, surgirão outras oportunidades, melhores ou piores, mas não é um bom hábito ficar jogando fora as oportunidades, né? E em algum momento as oportunidades se acabarão, e disso eu terei que prestar contas ao Bom Deus...


249: Faz poucos propósitos. - Faz propósitos concretos. - E cumpre-os com a ajuda de Deus.

Então, faço o propósito de trabalhar bem, com afinco, com concentração, fugindo das distrações, desintoxicando de tecnologia caso eu caia no pecado da dispersão, buscando em Deus o conforto e o consolo nos momentos de tristeza, que tantas vezes eu tentei afogar lendo notícias sobre questiúnculas eclesiais ou assistindo vídeos de queda-de-braço, atualmente meu esporte favorito...

250: Disseste-me e te ouvi em silêncio: “Sim, quero ser santo”. Se bem que esta afirmação, tão esfumada, tão geral, me pareça normalmente uma tolice.

"Cumprir o dever" não é suficiente para ser santo, mas é necessário. Que no cumprimento amoroso, paciente e escrupuloso de meu dever de estado, eu possa me santificar, carregando junto com Cristo a cruz para, crucificando-me com Ele, possa ser eu mais um a irradiar a luz de Sua ressurreição.












 

Nenhum comentário:

Postar um comentário